Relatório da ONU alerta que 3 em cada 10 brasileiros vive a insegurança alimentar

Quase 30% da população brasileira, 3 em cada 10 pessoas, vive insegurança alimentar moderada ou grave, revela relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) divulgado nesta quinta-feira (06/07).

São 61,3 milhões de pessoas que não têm garantia de alimentação – dentre elas, 15,4 milhões convivem com insegurança alimentar grave. Os dados são do período de 2019 a 2021.

O novo relatório mostra um forte agravamento da situação no Brasil: entre 2014 e 2016, eram 37,5 milhões de pessoas com insegurança alimentar, dentre elas 3,9 milhões em condição grave – quase quatro vezes menos do que hoje.

De acordo com a classificação da FAO, insegurança alimentar grave é quando a pessoa fica sem comida por um dia ou mais. Já insegurança alimentar moderada significa que a pessoa não tem certeza se conseguirá comida ou precisa reduzir a qualidade e/ou quantidade dos alimentos.

Agravamento da situação mundial

No mundo todo, o número de pessoas que sofrem com insegurança alimentar severa chegou a 2,3 bilhões em 2021, o que representa quase 30% da população mundial e revela um “grande retrocesso nos esforços para eliminar a fome e a desnutrição”, segundo a FAO.

Os dados do relatório não inclui os reflexos da guerra na Ucrânia, O futuro se apresenta ainda mais preocupante após o início da guerra na Ucrânia, que provocou distúrbios nas redes mundiais de distribuição e um aumento dos preços dos alimentos, energia e fertilizantes.

Em nível global, 828 milhões de pessoas sofriam com fome devido aos efeitos da pandemia da covid-19 e da crise climática no fim de 2021, segundo o mesmo relatório.

Desde o início da emergência global provocada pelo novo coronavírus, a quantidade de pessoas sem acesso a alimentos aumentou em 150 milhões.

Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Programa Mundial de Alimentos (PMA), o Fundo de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo para a Infância (Unicef) cobram uma iminente revisão das ajudas atuais para encarar essa “situação catastrófica”.

As agências preveem que, se a situação prosseguir, o objetivo da ONU de alcançar a “Fome Zero” em 2030 não será alcançado – ou seja, 670 milhões de pessoas, o que representa 8% da população mundial, continuará enfrentando a fome, a mesma quantidade que em 2015, quando foi lançada a Agenda da ONU.

As regiões mais afetadas no mundo pela fome são a Ásia, com 20,2% da população afetada; a África, com 9,1%; a América Latina e Caribe, com 8,6%.

Nesta última, a insegurança alimentar afetou, em 2021, 40,6% dos habitantes de forma severa, especialmente, no Caribe e na América do Sul, onde a desnutrição dobrou desde 2015.

“Se não atuarmos desde já, nessa resposta imediata que é necessária, mas com planejamento a longo-médio prazo, vamos ver que não apenas estamos retrocedendo no nível de pobreza e de acesso aos serviços básicos, mas também que isso irá desestabilizar as comunidades mais vulneráveis e abrir as portas para novos conflitos e guerra”, alerta Helene Papper, diretora de comunicação e advogada global da FIDA.

Outras pesquisas

No final do mês passado, uma pesquisa do Datafolha revelou que um em cada quatro brasileiros (26%) afirma não ter comida suficiente para alimentar seus familiares.

No começo de junho, o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil apontou que que 33,1 milhões de pessoas no Brasil não têm o que comer, fazendo o país regredir a um patamar de insegurança alimentar equivalente ao da década de 1990.

A pesquisa revela que 58,7% da população brasileira convive com a insegurança alimentar em algum grau – leve, moderado ou grave (fome). Atualmente, apenas quatro em cada 10 domicílios brasileiros conseguem manter acesso pleno à alimentação, ou seja, estão em condição de segurança alimentar.

 

DW/ONU

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