A tão anunciada fusão entre PSDB e Podemos foi por água abaixo após um impasse pelo controle da nova sigla. O Podemos exigiu presidência exclusiva por quatro anos, condição que os tucanos recusaram de imediato.
A exigência provocou o rompimento das negociações e frustrou o plano de unir forças para enfrentar as restrições da cláusula de desempenho nas eleições de 2026.
A crise se aprofundou mesmo após a convenção nacional do PSDB, em 6 de junho, que havia aprovado a fusão por ampla maioria — 201 votos a favor e apenas dois contrários. Mas o entusiasmo durou pouco: a falta de consenso sobre o comando da futura legenda fez as tratativas ruírem.
Em Mato Grosso do Sul, a proposta de fusão era acompanhada de perto pelo governador Eduardo Riedel e pelo ex-governador Reinaldo Azambuja, ambos tucanos, que vinham mantendo diálogo com o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, sobre os rumos do partido.
Com o fracasso da negociação, os dois agora se mobilizam para redefinir estratégias mirando as eleições de 2026. Azambuja, inclusive, deve deixar o PSDB e migrar para o PL, sigla que comandará no Estado e pela qual deve disputar uma vaga ao Senado.
O Podemos, presidido pela deputada federal Renata Abreu (SP), defendia sua permanência na presidência por um mandato completo. Já o PSDB propôs um modelo de revezamento, inicialmente semestral e depois anual. A proposta foi vista como inaceitável pela direção do Podemos, que insistiu no controle integral, o que levou ao encerramento definitivo das conversas.
Risco de extinção para o PSDB
Com o fracasso da fusão, o PSDB volta a enfrentar a ameaça de não cumprir a cláusula de desempenho em 2026 — o que pode levá-lo à perda do fundo partidário e do tempo de rádio e TV. A regra, criada pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017, exige que os partidos tenham pelo menos 2% dos votos válidos nacionais para a Câmara dos Deputados, em no mínimo nove estados, ou elejam 11 deputados federais.
Nas eleições de 2022, o partido já ficou no limite e, desde então, perdeu força. Atualmente conta com apenas 13 deputados federais e 3 senadores, além de ter sofrido baixas expressivas em seus quadros e influência.
O Podemos, com 15 deputados e 4 senadores, vive situação um pouco mais confortável, mas também sente os efeitos da cláusula de barreira e da fragmentação política.
Federações podem ser a saída
Com a porta da fusão fechada, o PSDB agora aposta na formação de uma federação partidária. Diferente da fusão, esse modelo mantém a identidade e estrutura dos partidos, mas obriga uma atuação conjunta por pelo menos quatro anos.
Lideranças tucanas já iniciaram conversas com MDB, Republicanos, Solidariedade e outras siglas do centro político. A ideia é formar um bloco que represente a chamada terceira via, tentando escapar da polarização entre Lula e Bolsonaro.
Impacto das federações nas eleições
Desde que passaram a valer em 2022, as federações se mostraram eficazes para ajudar partidos médios e pequenos a manter relevância e evitar o colapso diante da cláusula de desempenho. Casos como PT-PCdoB-PV, PSDB-Cidadania e PSOL-Rede demonstram a força dessa estratégia.
Além de preservar estrutura e visibilidade, as federações garantem tempo de propaganda, recursos e estabilidade legislativa — ativos valiosos em tempos de crise política e eleitoral.
Próximos passos
O presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, reafirmou que o partido continuará em busca de alianças que fortaleçam o chamado Centro Democrático. Já o Podemos, mesmo em silêncio oficial após o rompimento, deve explorar novas possibilidades de alianças e federações com legendas que compartilhem sua linha política.
O episódio escancara a dificuldade dos partidos tradicionais em se adaptar às novas regras do jogo e sobreviver em um ambiente cada vez mais pulverizado, competitivo e dependente de articulação estratégica para garantir espaço no Congresso e nas urnas.
cjt