O ano de 2024 terminou com um sinal claro para os investidores: o asfalto brasileiro está novamente no radar do capital privado. Em doze meses, o governo federal realizou sete leilões de rodovias, arrecadando R$ 81,2 bilhões em promessas de investimento. Não é pouco. Foi o melhor desempenho desde 2007, quando o setor viveu seu último pico de interesse.
O número, no entanto, ficou abaixo dos R$ 122,4 bilhões inicialmente projetados pelo Ministério dos Transportes. Mas, no jogo das concessões, os números absolutos contam apenas parte da história. Mais relevante do que os bilhões investidos foi o perfil dos vencedores: seis dos sete leilões tiveram ganhadores diferentes. O resultado mostra não apenas diversificação, mas também apetite — um sinal de que o setor está mais competitivo e menos dependente dos mesmos rostos de sempre.
A EPR, por exemplo, se destacou ao vencer o lote 6 do Paraná e o trecho Belo Horizonte-Juiz de Fora da BR-040. Já o consórcio 4UM, liderado pela Aterpa, finalmente conseguiu levar a BR-381, conhecida como “Rodovia da Morte”. Não foi fácil. Foram cinco tentativas frustradas de leilão até que o governo aceitasse redesenhar o contrato, retirando do edital o trecho mais complexo e caro de duplicar. Foi essa concessão ajustada que, enfim, abriu caminho para o investimento de R$ 9,34 bilhões na rodovia.
Mas nem todos os editais tiveram finais felizes. O projeto da chamada “Rota da Celulose”, que envolve trechos no Mato Grosso do Sul, não atraiu interessados. O problema, segundo especialistas, foi o prazo apertado para entrega de obras complexas, como viadutos ferroviários. O governador Eduardo Riedel admitiu o problema e prometeu ajustes.
Outro ponto alto de 2024 foi o avanço dos fundos de investimento no mercado rodoviário. O Opportunity, embora não tenha vencido nenhum leilão, deixou claro que pretende seguir firme nas próximas rodadas. O BTG Pactual, outro nome de peso, também começou a se movimentar no setor.
Nos bastidores, há um consenso: o sucesso das concessões deste ano deve muito à nova Lei das Debêntures de Infraestrutura, sancionada no início de 2024. O modelo permite que as empresas deduzam 30% dos juros pagos aos investidores da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). A medida tornou mais atraente o financiamento de longo prazo no setor.
Enquanto as rodovias roubaram os holofotes, o setor portuário também fez sua parte. O governo realizou oito leilões de terminais portuários, somando R$ 3,74 bilhões em investimentos. O destaque foi o terminal ITG02, no Porto de Itaguaí, com previsão de R$ 3,5 bilhões em aportes e capacidade para movimentar mais de 21 milhões de toneladas de minério de ferro por ano.
Nos aeroportos, o movimento foi mais tímido. As grandes concessões já aconteceram nos últimos anos, e agora o foco está nos aeroportos regionais. O governo prepara um pacote com 51 terminais, especialmente no Norte e no Nordeste, para atrair operadores privados em 2025.
No fim das contas, 2024 foi um ano de sinais mistos, mas promissores. O apetite do mercado por rodovias e infraestrutura está claro, ainda que precise de ajustes pontuais nos contratos e prazos. Se o ritmo de concessões continuar, o Brasil poderá, finalmente, começar a reduzir seu histórico atraso logístico. Por ora, o asfalto foi pavimentado — mas há muito caminho pela frente.
ag.brasil/ebc